Iniesta já havia sido herói. Em maio do ano passado, fez um golaço nos acréscimos da semifinal da Champions League entre Barcelona e Chelsea. A Espanha também já havia sido campeã, dois anos atrás, na Eurocopa. Agora, conquista o mundo.
Dona de uma das ligas mais badaladas do mundo, com possivelmente os dois maiores clubes de futebol do planeta por tudo o que representam (Barcelona e Real Madrid), a Espanha nunca conseguia traduzir em resultados para sua seleção toda essa riqueza. A maldição, agora, acabou.
Se no primeiro tempo a Espanha começou melhor e controlou a bola durante 57% do tempo, a partir dos 20 minutos a Holanda começou a pressionar mais e a tirar a bola do rival. No segundo tempo, a tônica seguiu a mesma. O que mudou foram as chances, claríssimas, para ambos os lados.
Robben esteve duas vezes frente a frente com Casillas e parou no goleiro. A Espanha teve chances com Villa, Capdevilla e, a mais clara, com Sergio Ramos, que cabeceou sozinho para fora após escanteio.
Com as entradas de Jesús Navas e Cesc Fábregas, a Espanha melhorou em campo. Voltou a controlar a bola e teve esse domínio refletido em mais chances na prorrogação, com Fábregas, Iniesta e Navas.
O jogo
Como já se esperava, a seleção espanhola tomou a iniciativa da partida e, com o tradicional toque de bola envolvente, partiu para cima de uma Holanda que começou mais encolhida. A primeira grande oportunidade de gol na final da Copa saiu logo aos cinco minutos: em cobrança de falta pela direita, Sergio Ramos subiu mais que a zaga holandesa e cabeceou à queima-roupa, mas o goleiro Stekelenburg fez a defesa. Na sobra, Piqué não aproveitou.
A pressão da “Fúria” sobre a Holanda continuou nos minutos seguintes. Aos 11, Sergio Ramos recebeu pela direita, invadiu a área, passou por Kuyt e chutou cruzado para o meio da área, mas Heitinga afastou o perigo. Aos 12, após cobrança de escanteio, David Villa arrematou de primeira, mas a bola passou à esquerda do gol de Stekelenburg. A seleção holandesa só respondeu aos 20, com uma arrancada de Robben pela direita, interceptada por Sergio Ramos.
A partir da segunda metade da etapa inicial, a Holanda conseguiu equilibrar as ações e adiantou a marcação sobre o time do técnico Vicente del Bosque. Deu resultado: a posse de bola da Espanha diminuiu sensivelmente, e os holandeses passaram a ameaçar um pouco mais. O jogo ficou duro no meio-de-campo, com algumas faltas violentas e um alto número de cartões amarelos – cinco em apenas 25 minutos de partida.
Aos 33 minutos, um lance inusitado: no momento em que Van der Wiel, da Holanda, devolvia a bola à Espanha por “fair play”, o goleiro Casillas foi surpreendido e quase sofreu um gol por cobertura. Ele teve de dar um leve toque nela e colocar pela linha de fundo, em escanteio. Mas os holandeses devolveram novamente a bola à seleção espanhola. Aos 36, a Holanda teve uma boa chance após cobrança de escanteio de Robben e passe de Sneijder, mas Mathijsen furou bisonhamente dentro da área.
O último bom momento do primeiro tempo aconteceu aos 43 minutos, e por pouco a Holanda não tirou o marasmo do jogo ao abrir o placar no Estádio Soccer City. Robben dominou pela direita e chutou cruzado da entrada da área, mas o goleiro Casillas espalmou e evitou o gol holandês.
Jogo melhora no 2º tempo
Na etapa complementar, quem chegou pela primeira vez com perigo perto do gol adversário foi a Espanha. Logo aos três minutos, após cobrança de escanteio, Puyol desviou de cabeça no primeiro pau, mas Capdevila furou e desperdiçou a ótima chance. Um minuto depois, aos quatro, Xabi Alonso tentou a arrancada e invadiu a área, mas Van Bommel trombou com ele e a bola foi pela linha de fundo, em tiro de meta para a Holanda.
As faltas que marcaram a partida na etapa inicial continuaram, aos montes, no segundo tempo. Até os 12 minutos da etapa final, o árbitro Howard Webb já havia distribuído sete cartões amarelos – cinco para a Holanda e dois para a Espanha (ao todo, foram 13 amarelos e um vermelho, o maior número de cartões da história das finais de Copa). Os jogadores das duas seleções começaram a pressionar o juiz, que teve muitas dificuldades para controlar o jogo.
Violência à parte, aos 16 minutos a Holanda teve a melhor oportunidade de marcar de todo o jogo. Em um contra-ataque que parecia mortal, Sneijder fez lançamento espetacular para Robben, que ganhou na velocidade de Piqué e tocou na saída do goleiro Casillas, mas a bola caprichosamente saiu pela linha de fundo.
Os espanhóis, por sua vez, também lamentaram por uma incrível chance desperdiçada aos 24 minutos. Jesus Navas, que havia acabado de entrar no lugar de Pedro, fez boa jogada pela direita e cruzou rasteiro. Heitinga falhou feio, e a bola sobrou limpa para David Villa, que foi travado na hora do chute e perdeu o gol que o consagraria definitivamente no Mundial. Aos 31, outra chance perdida, desta vez com Sergio Ramos, de cabeça, após escanteio cobrado pela esquerda.
Aos 37 minutos, Robben voltou a ficar frente a frente com Casillas e perdeu a chance de fazer o gol do título da Holanda. Após um chutão para o meio do campo, Van Persie desviou de cabeça e Robben ganhou na velocidade de Pique, mas demorou demais para concluir e o goleiro espanhol chegou primeiro. Foi a última grande oportunidade do tempo regulamentar.
Título na prorrogação
O tempo extra da decisão do Mundial da África do Sul começou bem mais movimentado do que os 90 minutos iniciais. Logo aos dois minutos, Fábregas, que entrara no lugar de Xabi Alonso, fez o corte na entrada da área e foi derrubado, mas a bola sobrou para Iniesta, que foi travado. Na sobra, Villa e Xavi também tentaram o chute, sem sucesso.
Aos seis minutos, foi a vez de o goleiro holandês Stekelenburg brilhar. Fábregas, que entrou bem no jogo, recebeu bom passe de Xavi e chutou de esquerda, mas o arqueiro da Holanda evitou o que seria o primeiro gol do jogo. Aos dez, Villa acionou Navas pela direita, e o atacante invadiu a área e chutou cruzado, forte, mas a bola desviou em Van Bronckhorst e passou rente à trave do gol de Stekelenburg.
No início do segundo tempo da prorrogação, logo aos três minutos, a Holanda ficou com um jogador a menos em campo. Xavi deu um passe preciso para Iniesta na entrada da área, mas o espanhol foi derrubado por Heitinga, que já tinha cartão amarelo e recebeu o vermelho. Na cobrança, Xavi mandou por cima do gol.
Quando tudo indicava que a igualdade se manteria até a decisão por pênaltis, a Espanha chegou ao gol do título aos dez minutos do segundo tempo da prorrogação. Iniesta recebeu excelente passe de Fábregas, dominou na entrada da área e chutou forte, sem chances para o goleiro Stekelenburg. A Espanha, enfim, entrava no seleto grupo dos campeões mundiais.
FICHA TÉCNICA
HOLANDA 0 X 1 ESPANHA
Local: Estádio Soccer City, em Johanesburgo (África do Sul)
Data: 11/07/2010 (domingo)
Horário: 15h30 (de Brasília)
Árbitro: Howard Webb (ING)
Auxiliares: Darren Cann (ING) e Michael Mullarkey (ING)
Gol: Iniesta (Espanha), aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação.
Cartões amarelos: Van Persie, Van Bommel, De Jong, Van Bronckhorst, Heitinga, Robben, Van der Wiel e Mathijsen (Holanda); Puyol, Sergio Ramos, Capdevila, Iniesta e Xavi (Espanha).
Cartão vermelho: Heitinga (Holanda).
Público: 84.490 torcedores.
ESPANHA: Casillas, Sergio Ramos, Piqué, Puyol e Capdevila; Sergio Busquets, Xabi Alonso (Fábregas), Xavi e Iniesta; Pedro (Jesus Navas) e Villa (Fernando Torres).
Técnico: Vicente del Bosque.
HOLANDA: Stekelenburg, Van der Wiel, Heitinga, Mathijsen e Van Bronckhorst (Braafheid); Van Bommel, De Jong (Van der Vaart) e Sneijder; Kuyt (Elia), Robben e Van Persie.
Técnico: Bert van Marwijk.
Fonte:www.terra.com.br